terça-feira, 7 de abril de 2009

Irracionalidade racional

“Alguém disse uma vez que no momento em que paramos a pensar se gostamos de alguém, já deixámos de gostar dessa pessoa para sempre”
Carlos Ruiz Zafon in “A Sombra do Vento”

Mostra o escritor a essência da irracionalidade humana. No fundo, se cumprir-mos com a nossa humanidade, somos animais irracionais. Irracionalmente gostamos de quem não sabemos distinguir a razão objectiva do nosso afecto. Quantas vezes se fundem pensamentos inconscientes por algo ou alguém, sem que lhe reconheçamos merecedores de a energia de pensar? Quantas ocasiões nos perdemos em desvarios de mente (e dementes…) sem saber a razão de tal modo. Gostamos e pronto! E deixamos de gostar no preciso momento em que, no laboratório dos afectos ensaiamos a razão dos mesmos!
Gostar é não pensar, é somente sentir. Sentir a brisa no beijo anunciado ou no calor das mãos que se entrelaçam, o mesmo olhar fixo naquele por do sol que nos aquece os sentidos. É não pensar senão na alma que se renova nos encontros não adiados.
Não se pensa quando se olha aqueles olhos que nos pedem um abraço ou quando miramos atentamente a gota de orvalho que se nos cai na mão.
Não nos peçam pois a nós, seres irracionais, que desvendemos os manuais que o coração segue quando se perde. Não os conhecemos, e conhece-los é eternamente descurar as linhas com que se escrevem porque não se escrevem, sentem-se sem pensamentos de supostas realidades mentais.
Não procurem razões para esta animalesca realidade a única razão é não pensar!

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Doença

Muito mata um coração empedernido! É patologicamente diagnosticável pela completa falta de vontade de se abrir á humana vontade de se amolecer ao passar de um abraço. Seca os sentidos e deixamos de ver, ouvir, sentir… morremos apodrecendo pouco a pouco.
Está comprovado que um coração que não bate de paixão não bate de vida, perdendo-se nos caminhos ténues da morte. Morte em vida andada, em vida que ao ar rouba o respiro.
Hoje perdemo-nos perdidamente nos caminhos obscuros que o tempo amortece. Não queremos mais saber de abraçar. Vive-se a aurora esquecendo o por do sol. O agora sem a esperança que espera o amanhã com a alma em desatino. Não se cometem loucuras por paixão, simplesmente porque não está na moda, porque é ridículo sorrir com cara de parvo, ser ciumento ou chorar de ausência. Vive-se amores fast-food de consumo rápido, com elevados níveis de colesterol sentimental que se nos atrofiam as veias e nos atrasam o bater da alma.
Um amor quer-se sentido e lento, de digestão pausada. Repleto de fibras e com muito exercício. Um amor quer-se para um coração que nos palpite em cada veia.
Um amor exercita-se dos gritos mudos que amolece o coração e o faz bater na fímbria do desejo e no ritmo lento dos dias. Ah, nada mais mata que veias cheias de placas de beijos por dar e risos mudos e loucuras não cometidas.
Não venham pois com doenças criadas e registadas em livros de criar pó. Morre-se mais de tristeza e solidão que de cancro ou sida. Morre-se mais mal amado que de cólera. Morre-se mantendo a triste aparência da vida que se perde dia a dia.
Urge pois um novo batimento cardíaco que não engula um choro nem recuse um mimo. Que não mais se sucumba de espera calada, amordaçada porque, está definitivamente provado, nada mata mais que um coração empedernido.