quinta-feira, 2 de abril de 2009

Doença

Muito mata um coração empedernido! É patologicamente diagnosticável pela completa falta de vontade de se abrir á humana vontade de se amolecer ao passar de um abraço. Seca os sentidos e deixamos de ver, ouvir, sentir… morremos apodrecendo pouco a pouco.
Está comprovado que um coração que não bate de paixão não bate de vida, perdendo-se nos caminhos ténues da morte. Morte em vida andada, em vida que ao ar rouba o respiro.
Hoje perdemo-nos perdidamente nos caminhos obscuros que o tempo amortece. Não queremos mais saber de abraçar. Vive-se a aurora esquecendo o por do sol. O agora sem a esperança que espera o amanhã com a alma em desatino. Não se cometem loucuras por paixão, simplesmente porque não está na moda, porque é ridículo sorrir com cara de parvo, ser ciumento ou chorar de ausência. Vive-se amores fast-food de consumo rápido, com elevados níveis de colesterol sentimental que se nos atrofiam as veias e nos atrasam o bater da alma.
Um amor quer-se sentido e lento, de digestão pausada. Repleto de fibras e com muito exercício. Um amor quer-se para um coração que nos palpite em cada veia.
Um amor exercita-se dos gritos mudos que amolece o coração e o faz bater na fímbria do desejo e no ritmo lento dos dias. Ah, nada mais mata que veias cheias de placas de beijos por dar e risos mudos e loucuras não cometidas.
Não venham pois com doenças criadas e registadas em livros de criar pó. Morre-se mais de tristeza e solidão que de cancro ou sida. Morre-se mais mal amado que de cólera. Morre-se mantendo a triste aparência da vida que se perde dia a dia.
Urge pois um novo batimento cardíaco que não engula um choro nem recuse um mimo. Que não mais se sucumba de espera calada, amordaçada porque, está definitivamente provado, nada mata mais que um coração empedernido.

1 comentário:

Estações da Vida disse...

Fantástico, sensacional! Concordo plenamente com tudo o que você falou. Mas sabe, nós, os adultos, temos medo de sofrer e, para que tal não nos acontece, criamos uma carapaça, uma barreira, para evitarmos as desilusões. Mas a vida é uma colcha de retalhos de alegrias e de algumas decepções e amarguras..Cabe-nos mudarmos esse panorama. Se algum dia amamos e fomos preteridos por alguém, em contrapartida, muitas pessoas também nos amaram e foram-nos indiferentes...Não tenho medo de amar, não me acanho ao dizer ao meu amor, sempre, todos os dias, que o amo, que ele é muito importante para mim, porque talvez um dia seja tarde demais...
Parabéns pelo texto! Adorei! Abraços.

Sylvia Narriman Barroso